O Prêmio BETA CRUCIS

 

A categoria Beta Crucis indica e premia as obras que melhor discutem e apresentam noções de representatividade social em seu conteúdo. Entende-se como representatividade sociais temas como gênero, raça/cor/etnia, orientação sexual, situação socioeconômica, crença/religião, origem e aspectos regionais, pessoas com deficiência, entre outras.

- Prêmio Beta Crucis 2019

O cinema sempre foi majoritariamente dominado por homens brancos que ditaram e construíram um universo hegemônico, pouco representativo e que responde somente às questões deles.

Se faz necessário que nós, como estudantes e profissionais do cinema e do audiovisual, questionemos essas estruturas. É uma tarefa de revisitar e resgatar a história que tenta a todo custo apagar a comunidade negra, as mulheres, a população LGBTQIAP+, povos originários e pessoas com deficiência. Com a categoria BETA CRUCIS, queremos valorizar e trazer um olhar especial pras obras que agregam essa diversidade e trazem representatividade para o meio audiovisual.

No I Festival Beta – Prêmio ESPM de Audiovisual  Universitário, Gabriela Gonçalves da Motta levou pra casa o prêmio BETA CRUCIS com seu curta-metragem Por Mim (2019).

Por mim é um curta que trata o processo de cura da mulher após o processo traumático de um relacionamento abusivo. As rosas representam o amor, a delicadeza, a maciez e a força, mas trazem também, a paixão cega, a insegurança, o medo de se aproximar ou deixar que se aproximem. Uma vez que destruída ela precisa sozinha encontrar o caminho de volta pra si mesma. Um caminho de aceitação, de cuidado, de realismo. Muitas das vezes mulheres vivenciam violência física, verbal, psicológica e são manipuladas para acreditar que essas violências são manifestações de amor. Pode demorar para perceber que se a situação não a faz bem é melhor partir ou as vezes sabem mas não conseguem por medo, medo do agressor, ou da opinião pública que geralmente culpabiliza essas vítimas. O curta apresenta esse processo. O protagonismo desta vez é da vítima, não do agressor, não da violência sofrida. A única em evidência ali é ela, a mulher. Que por sua vez se encontra e finalmente torna-se uma nova versão de si, com mais confiança em si para seguir em frente da maneira que quiser. Esse prêmio foi uma grade conquista para mim e para todas as mulheres mulheres, é um pouco de voz e sensibilidade para cada uma delas que tem ou já teve sua voz silenciada
Gabriela Gonçalves da Motta
Ganhadora do Prêmio Beta Crucis 2019
O audiovisual não é apenas uma linguagem para contarmos histórias. Quando observadas em conjunto, elas constroem nossa memória coletiva, nossa identidade social e são parte fundamental de nossa cultura. Somos uma comunidade porque compartilhamos das mesmas histórias. Elas nos dizem quem somos ou quem queremos ser. Nossas avós e mães nos contam fundamentalmente os mesmos contos e manteremos a tradição ao contar esses contos para nossos filhes e netes. O que torna o prêmio BETA CRUCIS uma iniciativa fundamental é o reconhecimento de nossos estudantes de que essa roda de contos audiovisuais precisa ser ampliada. Existem outros autores e outras tramas que sonegamos por décadas. No final das contas, não é uma iniciativa sobre a novas histórias a serem contadas - elas sempre estiveram aí. É uma inciativa sobre antigas histórias que precisam ser finalmente vistas. O Beta Crucis é sobre escuta. Sobre escuta sensível.
Gabriel F. Marinho
Professor da ESPM Rio e Responsável pela Mostra Beta Crucis